sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Por que usar artigos de brechó?

Muitas pessoas me perguntam sobre o consumo de produtos de brechó, algumas com olhar de desconfiança, me perguntam muito sobre a questão energética que envolve adquirir roupas que pertenceram a outras pessoas, e algumas sempre acham que as roupas pertenceram inevitavelmente a pessoas que já desencarnaram .

 
Pois bem, um ótimo argumento que me surgiu ao assistir um documentário que aborda a questão do semi escravismo presente no modo de produção na China, chamado China Blue de 2007 em que principalmente adolescentes que usam identidades falsas de 17 anos mas que possuem na verdade 14 anos de idade trabalham em um esquema que envolve muitas vezes 17 horas de trabalho por dia, dormindo 4 horas por dia, se alimentando mal, vivendo em quartos imundos com mais 12 jovens, a maioria são mulheres, por serem segundo os contratantes "mais dóceis e pacíficas" que os homens.
Os grandes empresários chineses cobram por tudo que oferecem, não existem benefícios, cobram pela comida, pelos baldes de água, dão multas altas por motivos menores, como um simples atraso ou um inevitável cochilo durante o trabalho, ou uma breve troca de palavras com o colega ao lado, os trabalhadores se é que assim podemos chama-los, são proibidos de falar durante o trabalho e passam por atividades maçantes e repetitivas,  o que as torna necessariamente alienantes.
A personagem deste documentário passa os dias a tirar linhas das calças jeans, outra prega botões, outro passa as peças e assim por diante.
Não há folga, são 7 dias de trabalho e muitas vezes o salário miserável que é oferecido atrasa em até 3 meses, sem que possam fazer nada, greves são proibidas e muitos dos impresários são ex chefes de polícia ou políticos influentes e poderosos.
Quando nas raras vezes existe uma inspeção ou visita de compradores nas fábricas, o chefe passa um memorando avisando o que devem dizer a esses visitantes e tudo parece muito agradável e dentro das leis, as fábricas contam com 150, 200 funcionários e os índices de suicídio são elevados em uma notícia tirada da internet de julho de 2010 é possível ler claramente "As condições de trabalho são tão tenebrosas que anualmente se registram muitas centenas de suicídios. A empresa rodeou de altas grades os terraços e telhados para evitar que algum trabalhador se lance daí e todos têm de assinar uma declaração de que não se vão suicidar, a mais curiosa das declarações contratuais que se conhece no Mundo desde sempre."  link da reportagem inteira Aqui.
Além de toda esta repressão os funcionáios não recebem geralmente o primeiro salário como garantia de que não fugirão, mas de fato, quando este sair nunca receberá este pagamento, e são proibidos de pedir demissão também.

E se para quem lê agora parece que se apenas não comprar produtos com a etiqueta Made in China não estará contribuindo com estes abusos, está errado, neste documentário um dos contratantes é justamente a marca Lewis, que paga apenas cerca de 4 dólares  por calça jeans fabricada e cada funcionário recebe 2 centavos por hora trabalhada.
Deste modo que comprar produtos em brechó se torna de fato uma saída para o não fortalecimento desta lógica de abuso e sofrimento, se energeticamente alguém se sente mal porque possivelmente use roupas de alguém que já morreu, saiba que ao usar sua calça Lewis novinha em folha ela vem carregada energeticamente deste sofrimento todo.
E se a marca é tão importante assim, saiba que ainda existem muitos produtos em ótimo estado em circulação por aí nos brechós, já dei exemplos de produtos de grife adqueridos por preços baixos, como a carteira Louis Vuitton que mostrei no especial carteiras deste blog,  é uma questão de encontra-los e saber realizar combinações, existem centenas de blogs que dão ótimas dicas de moda sem que precisemos consumir loucamente, é uma questão de adaptar a moda atual com peças vintage, investir em acessórios contemporâneos é uma boa saída, como tenho mostrado.
E saiba também que a maioria das doações dos brechós são advindas de classes sociais com maior poder de consumo que descartam suas roupas e demais produtos de acordo com a estação do ano ou  de acordo com os ditames da moda atual, que sabemos: sempre volta! vide o atual revival dos anos 80/90, gente até o babuche voltou !!!

Usar peças de brechó além de estimular a criatividade, proporcionar encontros agradáveis, fortalecer o comércio do bairro, ajudar a entidades beneficentes, pois a grande maioria dos bazares são beneficentes, ainda é uma colaboração para por de volta em circulação peças e objetos que seriam descartados muitas vezes indevidamente.

Trecho do China Blue:

2 comentários:

Amanda Prado disse...

Assiti esse filme, pesado mesmo. ótimo post. Beijones!!!
Amanda

Unknown disse...

Colocação inteligente.
Vou usar esse argumento.
É muito triste mesmo ,saber que as roupas já vem com sangue,que nós contribuimos para isso,quantos choros e quanta crueldade vem com o prazer de comprar .
Obrigado