Este brechó como o nome já diz, fica no Bresser, bem perto do metrô, na Rua do Hipódromo 866.
Fui recebida pelo senhor Heitor que pontuou: Fique a vontade!!!
E realmente é necessário estar confortável e disposto, pois não se engane com esta entrada estreita e aparentemente comum, lá dentro existe um universo de possibilidades:
Até porque o que mais chama a atenção neste brechó é o seu tamanho e a quantidade de peças, não a qualidade e diversidade, são várias salas e corredores com kilos de ítens iguais ou semelhantes, e ainda tem um andar acima, meio puxadinho improvisado que tem mais... roupas, na boa eu nunca vi tanto terno junto:
Em relação as peças eu gostei de alguns sobretudos e roupas de inverno e pra quem gosta de jaqueta de couro (não é o meu caso) eles tem preços bem mais camaradas dos que os vistos por aí.
Ando pelas ruas e vejo muito cinza e jeans nas cores das pessoas, lembro imediatamente de influências que tenho em relação ao meu modo de vestir e em como eu gostaria de ver as pessoas vestidas na cidade, mais cor ao menos ... ou como escrevem nas parede por aí:
Na verdade escrevi isto como uma grande desculpa para falar da Soul Train, em como aquele ambiente é mágico para mim mesmo não tendo participado diretamente, pois nasci 14 anos depois do início deste movimentoda Soul Train que foi um programa de televisão que estreou em 2 de outubro de 1971 nos Estados Unidos, sendo finalizado apenas em 25 de 2006, com 35 anos de existência. Durante todo este tempo, o programa mostrava, basicamente, performances de grupos e cantores de Soul, Hip Hop e R &B.
Soul Train foi criado por Don Cornelius, esse cara aqui ó:
Que também foi seu primeiro apresentador e produtor executivo. A produção foi suspensa na temporada 2005-2006 mas, ainda assim, uma versão de "melhores momentos" (The Best of Soul Train) foi criada e continuou no ar por dois anos.
Ok, mas Soul Train não é só isso ... é na minha modesta opinião abre aspas: O melhor programa de tv de todos os tempos, fecha aspas.
Lamento muito não poder ter visto ele em minha casa vestindo calça pantalonas, afastando os móveis da sala e fazendo dancinhas enigmáticas, os casais entrando no programa com roupas e gestos combinando... simplesmente incrível, se nunca assistiu não perca essa oportunidade, no you tube tem vários vídeos, separei estes dois em especial, o primeiro porque é uma coletânea das melhores danças e melhores roupas também, fique atento nas gravatas borboletas:
E este porque a música é muito boa (mesmo) War -Slippin' Into Darkness- 1972 e a galera quebra tudo dançando ao pé do palco:
Sábado passado aconteceu o segundo bazar do desapego, um evento organizado por um grupo de amigos sem fins lucrativos.
O evento aconteceu na aconchegante Casa Jaya que fica na Rua Capote Valente, 305, na Vila Madalena.
A idéia do bazar e regras de participação são bem simples: cada pessoa leva a quantidade de peças de roupas e acessórios que desejar, ao chegar deposita essas peças no balcão e recebe 5 etiquetas em que escreve o seu nome, à partir deste momento rola o desapego, suas peças já não lhe pertencem mais, e a idéia é selecionar aquelas peças legais que você tem mas não combinam mais com você.
Depois, em outra sala as roupas são dispostas, e você coloca sua etiqueta na roupa desejada e o mais divertido, se outra pessoa colocar etiqueta na mesma peça, no horário determinado pelos organizadores do evento vocês jogam jokempô para decidir quem leva a peça.
O evento foi bem bacana, no local havia lanchonete vegetariana e discotecagem para animar, além das peças serem de qualidade e haver o propósito relevante de desafogar o guarda roupa das pessoas, as peças que ficam são doadas para entidades.
Escrevo para falar um pouco sobre meus deliciosos encontros musicais proporcionados por discos adquiridos em brechós e sebos, escolhi este da Françoise Hardy que traz as músicas: Oh Oh Cheri (adoro!)- Il Est Parti Un Jour - J'Suis D´Accord - Tous Les Garçons Et Les Filles - para ilustrar esta postagem, pois além de ter uma voz incrivelmente doce a mulher é bonita até do avesso, além das fotografias incríveis que surgem quando pesquisamos imagens da moça (atualmente uma senhora dignamente bela com charmosos cabelos brancos) detalhe: comprei este disco por 1 real.
Minha paixão por discos começa quando ainda criança encontro em um armário esquecido de casa algumas pérolas da juventude de meus pais e passo a ouvir freneticamente tudo aquilo que enche meu coraçãozinho de alegria e acreditem que neste momento pessoas como: Chico Buarque, Caetano Veloso, Gal Costa etc...eram seres praticamente imagináveis esquecidos naquelas gavetas que ninguém sabia quem eram...afinal de contas eu não os via na tv e meus colegas de classe não cantarolavam suas músicas pelos cantos da escola, eles eram minha descoberta (só minha), eis que cresci e descobri quem eram (eles não se tornaram menos especiais por conta disso, mesmo com todos os chiliques do Caetano).
E a melhor parte veio depois: descobri um sebo no bairro (saudoso Casa da Sogra) que trocava discos e tinha umas pechinchas, foi o suficiente para que eu perdesse muitas de minhas tardes pueris procurando discos e como os donos de lá me conheciam um casal de irmãos muito divertidos por sinal, permitiam que eu ficasse sozinha por horas enchendo os dedos de poeira, perdida entre as estantes dos discos.
Sim, isso foi um lampejo nostálgico, mas esta memória é de fato uma delícia ... pena que meu toca discos esteja quebrado no momento (mas isso já rende outra história).
Em Janeiro tive a oportunidade de visitar o Brechó Vó Judith no centro de São Paulo que fica na Rua do Carmo, 122 - Sala 02, pois também há um brechó da mesma rede na Vila Madalena que visitarei em breve.
Este brechó fica escondidinho em um prédio antigo do centro com acesso por uma discreta escada lateral.
Fui recebida pela Simone, este brechó é bastante variado, mesclando vintage e contemporâneo, tem muitas peças, dividindo-se em três salas, traz acessórios e sapatos também, a maior diferença que encontrei foi no valor, que é fixado em 18 reais, deste modo, qualquer peça de roupa tem o mesmo valor.
Adorei essa embalagem de meia calça: achado vintage.
Dia de verão corriqueiramente agradável, fui a convite de uma amiga que estava a procura de roupas diferentes das quais usa habitualmente e acompanha o trabalho que venho realizando em relação aos brechós para "descobrir" alguns brechós por aí, sugeri alguns da enorme lista que tenho com nomes e endereços dos quais desejo visitar, e fomos após uma visita ao Brechó Vó Judith no centro (estou preparando a postagem sobre essa visita aguardem!) rumo a Vila Madalena.
E andando a procura de um dos endereços que havia anotado, fomos "encontradas" pelo Cabaré das Artes, um espaço cultural que fica na Rua Aspicuelta n º 480.
Fiquei fascinada pelo local e clima intimista da casa que fica claro ao ler avisos como: "sorria,! você não está sendo filmado", além dos preços acessíveis e peças muito bem escolhidas, muitas bolsas, acessórios, sapatos e objetos de época.
Fui atenciosamente atendida pela Célia que me explicou que o espaço, que no andar abaixo no nível da calçada abriga um sebo de livros e discos além do brechó é também um espaço que pode ser alugado para festas e comemorações diversas.
Passamos um bom tempo neste lugar, prometendo voltar outras vezes, tanto que acabamos por nem ir ao brechó que eu estava procurando de fato, foi muito bom este encontro que o acaso nos reservou, agradeço a minha amiga/irmã Janaína pela tarde muito agradável.
Abaixo algumas fotos do local, mais imagens no flickr:
Muitas pessoas me perguntam sobre o consumo de produtos de brechó, algumas com olhar de desconfiança, me perguntam muito sobre a questão energética que envolve adquirir roupas que pertenceram a outras pessoas, e algumas sempre acham que as roupas pertenceram inevitavelmente a pessoas que já desencarnaram .
Pois bem, um ótimo argumento que me surgiu ao assistir um documentário que aborda a questão do semi escravismo presente no modo de produção na China, chamado China Blue de 2007 em que principalmente adolescentes que usam identidades falsas de 17 anos mas que possuem na verdade 14 anos de idade trabalham em um esquema que envolve muitas vezes 17 horas de trabalho por dia, dormindo 4 horas por dia, se alimentando mal, vivendo em quartos imundos com mais 12 jovens, a maioria são mulheres, por serem segundo os contratantes "mais dóceis e pacíficas" que os homens.
Os grandes empresários chineses cobram por tudo que oferecem, não existem benefícios, cobram pela comida, pelos baldes de água, dão multas altas por motivos menores, como um simples atraso ou um inevitável cochilo durante o trabalho, ou uma breve troca de palavras com o colega ao lado, os trabalhadores se é que assim podemos chama-los, são proibidos de falar durante o trabalho e passam por atividades maçantes e repetitivas, o que as torna necessariamente alienantes.
A personagem deste documentário passa os dias a tirar linhas das calças jeans, outra prega botões, outro passa as peças e assim por diante.
Não há folga, são 7 dias de trabalho e muitas vezes o salário miserável que é oferecido atrasa em até 3 meses, sem que possam fazer nada, greves são proibidas e muitos dos impresários são ex chefes de polícia ou políticos influentes e poderosos.
Quando nas raras vezes existe uma inspeção ou visita de compradores nas fábricas, o chefe passa um memorando avisando o que devem dizer a esses visitantes e tudo parece muito agradável e dentro das leis, as fábricas contam com 150, 200 funcionários e os índices de suicídio são elevados em uma notícia tirada da internet de julho de 2010 é possível ler claramente "As condições de trabalho são tão tenebrosas que anualmente se registram muitas centenas de suicídios. A empresa rodeou de altas grades os terraços e telhados para evitar que algum trabalhador se lance daí e todos têm de assinar uma declaração de que não se vão suicidar, a mais curiosa das declarações contratuais que se conhece no Mundo desde sempre." link da reportagem inteira Aqui.
Além de toda esta repressão os funcionáios não recebem geralmente o primeiro salário como garantia de que não fugirão, mas de fato, quando este sair nunca receberá este pagamento, e são proibidos de pedir demissão também.
E se para quem lê agora parece que se apenas não comprar produtos com a etiqueta Made in China não estará contribuindo com estes abusos, está errado, neste documentário um dos contratantes é justamente a marca Lewis, que paga apenas cerca de 4 dólares por calça jeans fabricada e cada funcionário recebe 2 centavos por hora trabalhada.
Deste modo que comprar produtos em brechó se torna de fato uma saída para o não fortalecimento desta lógica de abuso e sofrimento, se energeticamente alguém se sente mal porque possivelmente use roupas de alguém que já morreu, saiba que ao usar sua calça Lewis novinha em folha ela vem carregada energeticamente deste sofrimento todo.
E se a marca é tão importante assim, saiba que ainda existem muitos produtos em ótimo estado em circulação por aí nos brechós, já dei exemplos de produtos de grife adqueridos por preços baixos, como a carteira Louis Vuitton que mostrei no especial carteiras deste blog, é uma questão de encontra-los e saber realizar combinações, existem centenas de blogs que dão ótimas dicas de moda sem que precisemos consumir loucamente, é uma questão de adaptar a moda atual com peças vintage, investir em acessórios contemporâneos é uma boa saída, como tenho mostrado.
E saiba também que a maioria das doações dos brechós são advindas de classes sociais com maior poder de consumo que descartam suas roupas e demais produtos de acordo com a estação do ano ou de acordo com os ditames da moda atual, que sabemos: sempre volta! vide o atual revival dos anos 80/90, gente até o babuche voltou !!!
Usar peças de brechó além de estimular a criatividade, proporcionar encontros agradáveis, fortalecer o comércio do bairro, ajudar a entidades beneficentes, pois a grande maioria dos bazares são beneficentes, ainda é uma colaboração para por de volta em circulação peças e objetos que seriam descartados muitas vezes indevidamente.